terça-feira, 2 de agosto de 2016

Um Encontro - Dublinenses – James Joyce


James Joyce nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1882.
Abandonou o curso de Medicina para se dedicar à literatura. 
Em 1903 publicou “Dublinenses” e é sobre ele que falaremos nas próximas semanas. 

“Dublinenses” foi recusado por 40 editoras e só foi publicado 9 anos depois de ser escrito. Isso porque o autor fez questão de que nada fosse alterado na obra. E o resultado foi um presente atemporal para leitores apaixonados.



São 15 contos, que ambientados em Dublin, retratam o cotidiano e os costumes de um povo que luta para ter sua identidade reconhecida e livrar-se da imagem inglesa. São carregados de significados, não somente para os irlandeses que reconheceram sua cultura através da leitura, mas também para aqueles que não aceitam passar pela vida sem degustar de sua evolução. Por mais que a Dublin retratada por Joyce nos pareça quase uma personagem viva, o elemento de coesão entre os contos não é o ambiente onde todos eles perpassam, mas os estágios da vida.
Essa é a proposta de Dublinenses, nos fazer pensar no preço da maturidade, nas sombras que ela carrega e na densidade que ela nos traz. 
São histórias aleatórias, aparentemente simples, óbvias e incompletas que descrevem episódios corriqueiros de um povo no início do século XX. Mas juntas, nos fazem um convite para refletirmos sobre a vida, o amadurecimento e a linha tênue entre passado e futuro, vida e morte. 
Sentimentos complexos são descritos em uma narrativa sutil e direta. E o conjunto da obra se transforma em uma leitura inesquecível e apaixonante!

Vamos falar sobre o segundo conto deste livro: Um Encontro. 
Ele representa a infância. 
O protagonista narra suas brincadeiras com os amigos imaginando um oeste selvagem. Porém, um dia eles se cansam do faz de conta e procuram aventuras reais. Após a desistência de um dos amigos, Mahony e nosso protagonista resolvem faltar à escola para darem um passeio até o Columbário. Quando estavam indo na direção do porto, Mahony resolve brincar de índio e com um estilingue à mão espanta algumas meninas que são salvas por dois meninos que começam a tacar pedra nos amigos. 
Após se livrarem dos atiradores, eles continuam sua jornada até chegarem ao porto de Dublin onde admiram o cotidiano dos trabalhadores. A fumaça, a pescaria, o veleiro, as locomotivas, tudo compõe o cenário de uma cidade em desenvolvimento. E visualizar tudo aquilo faz com que os meninos sintam sua alma crescer.

“Lar e escola pareciam afastar-se de nós e sua influência apagava-se.”

A sensação que temos é que ninguém percebe aqueles meninos perambulando entre a multidão, mas eles percebem cada detalhe daqueles desconhecidos que formam o cenário perfeito para a aventura que eles procuravam. 
Quando o sol começa a desaparecer, os meninos desistem de chegar ao seu destino e encontram um homem que começa a conversar com eles. 

“Acrescentou que o período da escola era sem dúvida o mais feliz da vida e que daria tudo para ser jovem outra vez. Enquanto expressava tais sentimentos, que nos aborreciam um pouco, permanecemos em silêncio. Pôs-se então a falar de escola e de livros. Perguntou-nos se havíamos lido as poesias de Thomas Moore ou as obras de Sir Walter Scott e de Lord Lytton. Fingi ter lido todos os livros que mencionou...”

Percebemos o contraste entre juventude e velhice. A sede pela descoberta e a sede pela sabedoria. Enquanto os meninos admiravam a vida adulta e o cotidiano urbano, o homem lamentava a vida passada e saboreava a nostalgia da infância e todo o seu frescor.  
Após falar sobre as meninas e os namoros da juventude, salientando sobre os traços atraentes da feminilidade, o desconhecido se mostra amargurado. 

“O homem prosseguia o monólogo. Parecia ter esquecido seu liberalismo anterior.”

Essa amargura e dureza transmitidas pelas palavras e expressões do desconhecido assustam nosso protagonista que vai embora ao encontro do seu amigo.

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